A produção agrícola brasileira nos últimos meses
A equipe econômica do governo po
derá ter
de lidar este ano com um inimigo invisível nas suas projeções econométricas: a variação climática. O Ministério da Agricultura já trabalha com uma potencial quebra
de safra
de alguns produtos importantes no Sul do País por causa da estiagem. Arroz, feijão, milho e soja estão na berlinda e a produção da região representa 20%
de toda a safra
de grãos brasileira.
"A seca diminuirá, sim, a produção. Vamos ter quebra
de alguns produtos por causa da seca, como milho, soja, arroz e feijão, principalmente o milho",
destaca o diretor
de comercialização e abastecimento do Ministério da Agricultura, Edilson Guimarães.
O cenário negativo chama atenção por algumas variáveis. A
demanda por commodities voltou a crescer no mundo e o consumo
de alimentos no Brasil está cada vez maior com o aumento
de renda da população. Para piorar, as chuvas atualmente em outras partes do Brasil também
podem fazer com que os preços
de hortaliças e frutas disparem.
Para agravar ainda mais a situação, a comida ganhou um peso maior este ano no índice
de inflação oficial do País, representando a mudança no comportamento do consumidor. No lugar
de 1,1 ponto porcentual, os quatro grãos passam a representar agora 1,5 ponto no IPCA.
O lado positivo é que a alta dos preços po
de elevar a balança comercial do País, que já vem sendo beneficiada mais pelo valor dos produtos no mercado internacional do que pelo aumento do volume
de bens vendidos. "O mundo não tem mais
de quem comprar. Ou paga preço do Brasil ou não terá produto", analisa o secretário
de relações internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto.
 |
Produção Agrícola |
A entrada no radar
de uma possível quebra
de safra já leva técnicos do governo a salientar que números recentes, como os da projeção do ciclo agrícola
de 2012 apresentados ontem mesmo pela Companhia Nacional
de Abastecimento (Conab), estejam
defasados. A estatal prevê que a safra
de grãos fique em 158,5 milhões
de toneladas, o que representaria uma queda
de 2,8% em relação ao que foi colhido no ano passado (163 milhões
de toneladas).
Para chegar ao volume, técnicos da Conab fazem inspeções mensais. Por meio
de pesquisa, o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) prevê um número semelhante: o Brasil terá uma safra
de 160,3 milhões
de toneladas, alta
de 0,3% sobre o resultado
de 2011, que, para o instituto, foi
de 160 milhões
de toneladas, a maior da história.
Segundo o gerente
de levantamento
de safras da Conab, Carlos Roberto Bestetti, os números obtidos pela estatal foram colhidos até 19
de dezembro, antes da acentuação da estiagem. Ele salientou que o impacto do clima sobre a agricultura ainda não parou e a expectativa é
de que, nos próximos três meses, as chuvas continuem abaixo da média para o período no Sul do País, um mau sinal.
O gerente consi
derou também que, levando-se em conta as notícias recentes sobre o clima, a projeção da Conab po
derá estar superestimada. "Hoje chega a frente fria no Sul.
Deve
demorar ainda a surtir efeitos." Por isso,
de acordo com ele, é difícil apresentar um prognóstico.
O ministro da Agricultura, Men
des Ribeiro Filho, também não quis fazer uma avaliação mais profunda sobre o tema e argumentou que ainda não é possível mensurar os impactos negativos da estiagem na Região Sul do País para os produtores locais. "Ninguém sabe o tamanho do prejuízo com a seca no Sul."
Fonte:
Estadão